Algo que vem tomando meu tempo de estudos em fotografia é a relevância da teoria das cores na arte fotográfica. Antes e durante alguns trabalhos, a melhor paleta de cores já me tirou algumas horas de sono. Optar pelo colorido ou pelo preto e branco ou o grau de saturação das cores, por exemplo, sempre são dúvidas recorrentes e muitas vezes fundamental para o sucesso de um trabalho.
Esta dúvida da melhor paleta de cores a utilizar por vezes traz dilemas longos que podem modificar por completo um trabalho. Um exemplo real que vivemos nos últimos anos foi com o São Francisco Submerso. No início dos trabalhos, lá nos idos de 2012, estávamos fortemente inclinados a ser um trabalho em preto e branco. Trabalhávamos com ruínas históricas, a maioria delas nunca antes fotografadas e os primeiros resultados foram fortemente animadores.
A mudança de rumo e a opção pelas cores aconteceu naturalmente dentro do próprio trabalho. A natureza do projeto foi paulatinamente moldando a paleta de cores que usaríamos ao fim do projeto. Pesou à época para a mudança de rumos alguns fatores
1. Os belos tons de verde e azul do rio São Francisco
Navegar pelo Velho Chico é navegar também por uma miscelânea de tons encantadores, ora puxado para o azul-caribenho, como em Petrolândia, ora o verde-esmeralda como em outras áreas da própria Petrolândia, Distrito de Barreiras, entre outras. Até mesmo os tons mais turvos de locais como Glória e a Terra Indígena Truká traziam seus encantos. Após sair um pouco de Petrolândia, a primeira cidade fotografada, percebemos que o Velho Chico tinha muitas cores, e isto traria um alto impacto ao trabalho.
Optamos por manter o mais próximo possível da realidade encontrada, o que levou por vezes os espectadores que não eram avisados previamente do local da imagem, especialmente as que não apareciam ruínas em si, as confundiam com alguma praia famosa. A própria exposição (um dos produtos do projeto) passou então é refletir este vasto compêndio de cores que encontramos em cada canto do rio, incluindo as grandes variações que encontrávamos num mesmo local, à medida que íamos descendo, cada vez mais fundo.
Os belos tons do antigo Distrito de Barreiras, Pernambuco, nas imediações da Igreja do Sagrado Coração de Jesus
2. O objetivo primário do projeto
Outro fator secundário, mas não mandatório, foi o fato das fotos em preto e branco trazerem na maioria das pessoas uma memória relativa ao passado e o cerne do trabalho é a situação atual das ruínas. Por mais que tenha um apelo estético e artístico, o registro documental e o mapeamento são o eixo central de São Francisco Submerso. As fotos em cores seriam um melhor retrato e trariam uma lembrança de maior atualidade às imagens.
Votando a falar do caso da exposição, caso tivéssemos optado pelo preto e branco, obviamente o trabalho não deixaria de ter seu imenso valor, certamente seria até mais interessante para algum visitante que se identificaria melhor e com certeza remontaria mais facilmente ao passado em que estas cidades foram inundadas. É uma opção que cabe ao fotógrafo, ao artista, de forma que um mesmo assunto pode levar a contornos e a mensagens completamente diferentes apenas atuando na paleta de cores.
Em breve, o projeto deve publicar um pequeno guia para mergulhadores que desejam saber as melhores coordenadas para mergulho em algumas cidades. Neste, por questões editoriais, as imagens virão em preto e branco. Nossa exposição, porém, vai seguir pelo Brasil, desta vez com novas cores, extraídas das águas dos municípios de Itacuruba e Rodelas.
No caso de guia, acima do valor estético, estará a questão de identificação das ruínas. Por vezes, a melhor foto do ponto de vista estético é deixada de lado em detrimento a outra que melhor identifique o objeto em questão. Esta fronteira entre a arte e o documental dá muito pano pra manga e espero abordar em um próximo post.